Um dos assuntos mais importantes e discutidos do universo do RH chegou à família real inglesa. Ou, podemos dizer que um membro da realeza passou a se interessar pelo mercado de recursos humanos. É que o príncipe Harry, herdeiro que abdicou do direito ao trono, vem atuando como Chief Impact Officer na BetterUP, uma plataforma de people experience. 

Com valor de mercado de quase 5 bilhões de dólares, a startup do Vale do Silício mistura técnicas de coaching com inteligência artificial para auxiliar no desenvolvimento de carreiras e culturas organizacionais. Harry atua praticamente como um coach de luxo, mas chamou atenção mesmo ao aparecer publicamente para anunciar: o príncipe sofre de burnout. 

A declaração gerou reações de todos os tipos. De um lado, questionamentos: pode alguém com vida tão privilegiada sofrer de uma síndrome ligada ao estresse no trabalho? Do outro, consciência: se a doença não diferencia alvos, o que nós, plebeus, podemos fazer para evitá-la? 

O timing não poderia ser mais pertinente. Em janeiro de 2022, a OMS mudou a classificação do burnout e passou a entender a síndrome como uma doença ocupacional. Além de jogar luz sobre o assunto, a alteração traz mudanças na forma como RHs devem lidar com a questão. Bora falar sobre isso?

Um assunto que não é só de hoje

O duque de Sussex não é a primeira pessoa pública a declarar que sofre de burnout, e provavelmente não será a última. A síndrome, afinal, não é rara. Pelo contrário: é um problema cada vez mais comum entre pessoas de todas as idades, profissões e realidades. Naturalmente, cada caso é um caso, mas sintomas como esgotamento físico e mental, ansiedade e desinteresse se manifestam na maioria dos enfermos. 

Outra celebridade que falou sobre o assunto foi a tenista Serena Williams, uma das atletas mais bem-sucedidas do mundo. De acordo com Serena, que também atua como empreendedora, o sucesso profissional não alivia a situação. Pelo contrário: a tenista afirma que sentia a pressão crescer a cada conquista que atingia. 

O cotidiano de um atleta de alta performance pode ser um bom ponto de partida para entender a síndrome mais a fundo. A pressão por resultados, a alta intensidade dos treinos e o pouco tempo para relaxar são catalisadores do burnout, e não é difícil traçar paralelos com o dia a dia do mundo corporativo. 

Embora cada vez mais comum, é importante que a doença não seja normalizada ou romantizada. Existem, afinal, formas de prevenir o problema. Um clima organizacional agradável e experiências profissionais positivas reduzem consideravelmente as chances da doença se desenvolver, mas não as anulam. 

Mitos e sinais

Além de trabalhar constantemente para otimizar a gestão de pessoas e garantir um local de trabalho positivo, o RH deve ficar atento aos sinais que apontam para a escalada do burnout. Ao mesmo tempo, é preciso desmistificar alguns pontos que são frequentemente associados à doença.

Mito 1: burnout é (só) excesso de trabalho

Por se tratar de uma síndrome diretamente ligada ao estresse no ambiente profissional, muitas pessoas acreditam que o burnout deriva do excesso de trabalho. Acontece que, embora relevante, essa não é a única causa. Uma pessoa pode ter uma rotina corporativa leve e, ainda assim, sentir-se esgotada e desinteressada. 

Portanto, reduzir o problema à carga de trabalho é um pensamento simplista, que pode dificultar a real resolução do problema. No fim das contas, tudo passa pela experiência geral do colaborador, desde suas relações no ambiente de trabalho até o sentimento de valorização, tanto pessoal quanto profissional. 

Mito 2: basta self-care

Voltemos ao discurso do príncipe Harry. Ao anunciar que lida com o burnout, o atual CIO da BetterUP listou diversas ações que o ajudam a aliviar os sintomas. O ponto central do discurso foi a busca por self-care. Harry apontou meditação e atividades ao ar livre como os caminhos para a cura, mas deixou de mencionar os aspectos mais complexos da doença. 

Aqui, é válido reforçar: é claro que atividades de self-care ajudam no bem-estar geral da pessoa e aliviam sintomas como estresse, ansiedade e esgotamento mental. Porém, elas só são efetivas se acompanhadas por outras iniciativas. No mundo corporativo, um dos papeis do RH é justamente providenciar o ambiente ideal para que tais iniciativas sejam tomadas. 

Quem sofre de burnout precisa de uma rede de apoio e de suporte. Precisa, também, da sensação de pertencimento e satisfação profissional, o que só pode ser alcançado a partir de uma cultura organizacional que leve a sério essas questões. Uma das práticas mais importantes é a atenção aos sinais, que incluem: 

  • insônia;
  • pesadelos;
  • fadiga frequente;
  • mudanças nos hábitos alimentares;
  • dores de cabeça;
  • dores estomacais; 
  • ansiedade.

Mito 3: é sinal de fraqueza

Por mais que o RH estratégico venha se tornando parte essencial de empresas de todos os setores, ainda há resistência sobre a importância da saúde mental. Infelizmente, ainda é possível encontrar gestores que acreditam que a doença pode ser evitada por meio de “resiliência”, o que implica que quem sofre da síndrome demonstra fraqueza. 

Esse tipo de pensamento é extremamente nocivo e pode levar até ao agravamento do quadro. A boa notícia é que ele não é mais tolerado, já que, graças à mudança de classificação da OMS, a negligência em casos de burnout pode gerar até processos trabalhistas. Mas, afinal, o que diz a Organização Mundial de Saúde? A resposta está no próximo tópico. 

O que diz a OMS 

Uma boa forma de analisar o interesse das pessoas por um assunto é dar uma olhada no Google Trends, ferramenta que monitora as palavras-chave buscadas no Google. O termo “burnout” atingiu seu pico de buscas na segunda semana de 2022, poucos dias após a mudança de classificação anunciada pela OMS. 

O crescimento no interesse tem relação direta com a nova interpretação da síndrome, que agora é considerada uma doença ocupacional. Segundo a Organização, o burnout é definido como “estresse crônico de trabalho que não foi administrado com sucesso”. Mas o que muda na prática? 

Bem, a partir de agora, colaboradores com burnout têm os mesmos direitos trabalhistas que aqueles que sofrem com outras doenças ocupacionais, como a Lesão por Esforço Repetitivo (LER). Isso diferencia o burnout de outros transtornos mentais, como a depressão e o TDAH. 

Como essas mudanças afetam o RH

Qualquer pessoa com experiência na gestão de recursos humanos sabe que o principal foco da área é garantir boas condições de trabalho, o que envolve o oferecimento de benefícios, o estabelecimento de uma cultura positiva e a criação de um ambiente seguro para os colaboradores expressarem suas angústias. 

Acontece que nem sempre os outros departamentos embarcam nessa missão. A nova classificação da OMS obriga as empresas a mudarem esse comportamento. Agora, evitar condições que levem ao burnout envolve, também, questões jurídicas. Ou seja, a empresa como um todo será responsabilizada caso não atue ativamente para evitar o problema. 

Podemos esperar, portanto, um aumento na preocupação com iniciativas para preservar a saúde mental dos funcionários. Mais do que nunca, isso vai afetar a reputação da marca empregadora e até a forma como investidores e acionistas avaliam a gestão executiva. Para  RH, isso significa mais argumentos para oferecer benefícios como auxílio-saúde e acesso a plataformas de bem-estar. 

Conclusão

Não é de hoje que sabemos que a gestão humanizada e o cuidado com a saúde emocional dos colaboradores impulsionam a produtividade e aumentam os resultados. Com as mudanças anunciadas pela OMS e declarações vindas de pessoas influentes, a tendência é que o tema se torne ainda mais relevante e gere impacto nas políticas corporativas. 

É urgente, então, discutir formas de garantir boas condições de trabalho para todos os colaboradores, levando em conta suas necessidades e diferentes realidades. Não há fórmula mágica para lidar com a síndrome de burnout, mas é certo que esforços vindos do RH são fundamentais para prevenir a doença e reduzir os danos. 

O foco na saúde mental e física dos colaboradores é uma das principais tendências de worklife para 2022. Se você já leu nosso e-book sobre o assunto, já sabe disso. Se não leu, não perca tempo: baixe gratuitamente! 

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