Se antes as relações de trabalho eram, praticamente, tópico impossível para um diálogo, hoje se tornam debates cada vez mais comuns. A preocupação com a qualidade de vida no trabalho tem se tornado destaque no mundo corporativo e ponto de atenção para as equipes de recursos humanos.

Recentemente, alinhado ao assunto em questão, um vídeo viralizou no aplicativo Tiktok em que um engenheiro utilizava o termo “quiet quitting”, expressão que logo ganhou força.

Sua tradução seria “desistência silenciosa”, mas especialistas apontam que a questão vai muito além do que o vídeo aborda. Embora o nome aponte para uma eventual demissão, a ideia do quiet quitting não tem nada ver com deixar o emprego. Ou pelo menos não deveria.

Vamos entender mais sobre o assunto?

Popularização do termo “quiet quitting”

As redes sociais têm grande influência na vida das pessoas atualmente, principalmente quando o conteúdo apresentado traz a sensação de identificação para quem está assistindo. Nesse contexto, a última semana foi dominada pela expressão “quiet quitting”, ou “demissão silenciosa”.

No vídeo mencionado, um jovem engenheiro de Nova Iorque traz uma reflexão sobre a rotina de trabalho, “você segue desempenhando suas funções, mas sem seguir a mentalidade de que o trabalho deva ser sua vida”. A proposta de Zaid Khan seria para que os empregados realizem apenas o que está em contrato, nem mais, nem menos.

Seria uma tentativa oposta a um padrão de trabalho que se evidenciou durante a pandemia, onde muitas organizações passaram a extrapolar os horários estipulados, colaboradores começaram a acumular tarefas e as cobranças profissionais abusivas tornaram-se rotina, cenário semelhante ao “workaholismo” da década de 70 em que o empregado não conseguia se desconectar do trabalho.

O vídeo repercutiu e, rapidamente, se tornou alvo de críticas. A ideia introduzida por Kahn foi apontada como um pedido de demissão silencioso, como se cumprir exatamente o seu escopo de trabalho fosse uma maneira velada de desistir. Bem, não é!

O esgotamento dos profissionais 

Principalmente pelo fato das pessoas terem começado a trabalhar de casa durante a pandemia, sem a possibilidade de um preparo ou um bom planejamento, fez com que muitos emendassem as atividades corporativas com as pessoais, gerando consequências negativas para a saúde física e emocional. 

De acordo com uma pesquisa realizada pela American Psychology Association, três em cada cinco colaboradores afirmam terem sidos impactados negativamente pelo estresse no trabalho, apontando efeitos como falta de interesse, de motivação e de energia. 

Além disso, os entrevistados também apontaram cansaço cognitivo (36%), exaustão emocional (32%) e fadiga física (44%). Esses fatores estão ligados ao burnout, ou “esgotamento”, uma doença ocupacional causada pelo estresse crônico por conta do trabalho.

No Brasil, segundo dados da Associação Nacional de Medicina no Trabalho (ANAMT), um em cada três brasileiros passam por algum grau do burnout. Neste contexto, a visão quanto ao trabalho começa a se modificar e as relações profissionais são questionadas. 

Busca por mudanças na rotina de trabalho

O novo cenário de trabalho dificulta a dissociação da vida pessoal e profissional, visto que muitas organizações continuam com modelo híbrido ou home office, e até para as que voltaram ao presencial, percebe-se que não há mais a antiga divisão. Logo, a qualidade de vida deve estar presente em todos os aspectos.

O “quiet quitting” é o reflexo dessa nova percepção, profissionais que optam por estabelecer limites em suas atuações profissionais visando manter a saúde física e emocional, a fim de esquivar-se do burnout. Sobretudo a nova geração tem buscado por ambientes que seja possível performar sem impactos negativos em sua qualidade de vida.

Empresas que valorizam os colaboradores, com flexibilidade de modalidade e horário de trabalho, plano de benefícios flexíveis, gestão e liderança humanizada, são algumas características reconhecidas por grande parte dos profissionais em busca de oportunidades.

E, convenhamos, dentro de uma boa gestão, colaborador que cumpre exatamente suas funções deve ser considerado exemplo, não candidato à demissão. Claro, pedir mais faz parte do jogo, mas é preciso entender os limites da cobrança.

Embate de gerações

Essa procura por melhores condições de trabalho, além da valorização de aspectos não financeiros, pode ser mal entendido por gerações mais antigas e gerar alguns conflitos dentro das organizações.

Até pouco tempo antes da pandemia, era comum encontrar os “workaholics” (ou “viciados em trabalho”) por conta de uma antiga ideia de que para ser valorizado era preciso trabalhar de forma compulsiva, indo além do requisitado, mentalidade impulsionada por chavões como “trabalhe enquanto eles dormem”.

Dessa forma, o movimento das novas gerações pode ser mal interpretado e entendido como “não querer trabalhar” ou “fazer mal feito”. Para evitar que algum conflito como este surja no ambiente de trabalho, as equipes devem estar preparadas para orientar e alinhar os colaboradores, visando um bom funcionamento geral. 

O importante é que, pouco a pouco, a valorização do bem-estar do colaborador e do suporte em saúde emocional está entrando no debate.

Pontos de atenção para as organizações

Para as empresas que desejam se manter ativas e competitivas no mercado, é necessário tomar medidas efetivas na transformação da cultura organizacional, para melhorar as condições de trabalho e que ofereçam qualidade de vida aos colaboradores.

Os gestores e líderes precisam conhecer as equipes, as habilidades e competências dos colaboradores para aplicá-las da melhor forma, a fim de manter bons resultados, sem extrapolar as demandas e capacidade profissional. Ademais, valorizar os funcionários constantemente, indo além de um aumento de salário.

Neste novo contexto, é válido testar novas modalidades, jornadas de trabalho mais personalizadas, pacote de benefícios flexíveis, ou até inclusão de espaços pet friendly no local de trabalho. Entender o que é valorizado pelos colaboradores e que beneficiem a experiência deles, mitigando a percepção negativa desse tal “quiet quitting”.

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