Nesta sexta-feira, 20 de novembro, é o dia da Consciência Negra no Brasil. Essa data representa a luta e resiliência de toda uma população, que ainda hoje, sofre com grande desigualdade e racismo.
Desigualdade em números
A sociedade brasileira é formada por mais de 50% de pessoas negras – para ser mais exato, 56% – porém a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) trimestral, compilada pelo IBGE, divulgou um levantamento sobre a taxa de desemprego no país, que aponta que o índice de não empregados ainda é maior entre pretos e pardos do que entre brancos, tendo um aumento de 12% em relação a 2019.
Ainda de acordo com mais dados, divulgados pela plataforma on-line de busca por oportunidades, o VAGAS.com, os cargos mais altos então, são em suma, pertencentes às pessoas brancas (principalmente homens).
Apesar de, percentualmente, serem maioria entre aqueles que concluíram os ensinos fundamental, médio e profissionalizante — e quase igualar o percentual de formados no ensino superior com os brancos – os negros são maioria apenas em posições operacionais e técnicas do mercado de trabalho. A partir do nível júnior, os índices despencam ainda mais, até chegar no cargo de diretor.
Saúde emocional e racismo
Psicólogos raramente recebem formação acadêmica em questões étnico-raciais, o que pode causar um efeito bastante negativo na saúde emocional de seus pacientes. É o que conta a psicóloga Elânia Francisca, mestre em educação sexual e colunista do VivaBem, do UOL.
Durante a graduação, ela não teve contato com os estudos de importantes pesquisadores negros na área, como Frantz Fanon, Neusa Santos Souza e Virgínia Leone Bicudo. Só pôde discutir essas questões fora da sala de aula, em iniciativas organizadas pelo movimento negro.
“Uma vez atendi uma criança negra que queria ter o cabelo liso. Levei esse caso para a minha professora e ela sugeriu que criássemos estratégias para sugerir um alisante para a menina. Isso foi um olhar racista sobre o sofrimento da pessoa negra”, relembra Francisca na matéria do Viva Bem.
Ainda, segundo publicado no site do UOL, o Brasil ocupa topo do ranking no número de casos de depressão na América Latina, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), com cerca de 12 milhões de pessoas afetadas pela doença.
Um estudo publicado pelo periódico Alzheimer’s Association mostrou que a discriminação racial aumenta o risco de desenvolver a depressão, estresse e problemas cognitivos em mulheres negras.
De acordo com a pesquisa, pessoas que sofreram mais com o racismo institucional tiveram 2,66 vezes mais chances de relatar um mau funcionamento cognitivo do que as mulheres que experimentaram o racismo com menos frequência.
Isso tudo afeta diretamente no colocação no mercado de trabalho e até mesmo no desempenho durante a realização do mesmo. Uma situação complicada que deve estar sempre no “radar” dos líderes e colaboradores das instituições.
Ações que servem de exemplo
A empresa Magazine Luiza, comandada por Luiza Trajano, anunciou em Outubro deste ano, a criação de um programa de trainees voltado exclusivamente para negros, com salário de 6 600 reais e benefícios como bolsas de inglês.
Segundo a executiva, a decisão aconteceu logo após ela mesma se identificar como racista, após uma reunião com gestores no qual percebeu que somente havia uma mulher negra entre os líderes.
A Bayer, empresa da área química e farmacêutica de origem alemã, também abriu inscrições para um programa de trainee similar para 19 vagas e salários de até R$ 6,9 mil. Elisabete Rello, diretora de RH da empresa no Brasil, diz que sabia que haveria questionamentos, embora boa parte deles tenha sido direcionada ao Magalu.
O presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) Paulo Sardinha, disse para a revista Exame, que acredita que a ação de grandes grupos será “vitrine” para outras empresas seguirem a tendência da diversidade não só em relação aos negros, mas também mulheres, deficientes físicos, analfabetos e homossexuais, assim como da sustentabilidade.
O Next Step, programa de estágio criado pelo Google, é também outro grande exemplo que pode ser seguido por diversas empresas pelo país. Ele visa oferecer 20 vagas para estudantes negros de graduação da Grande São Paulo, para atuação nas áreas de vendas, marketing, recursos humanos e financeiro, entre outras.
O objetivo do programa, segundo o anúncio oficial, é construir para a empresa uma força de trabalho que “reflita o mundo ao nosso redor”, para o estabelecimento de um ambiente de trabalho mais diverso que, com isso, estimule a inovação, “parte essencial” do DNA do Google.
Uma mudança em relação a outros programas de estágio da empresa é, para o Next Step, deixar de exigir fluência em inglês – segundo o anúncio, somente 5% da população brasileira fala um outro idioma.
Como aplicar a diversidade na prática
Mas como fazer com que esses dados diminuam cada vez mais no mundo corporativo e ter uma empresa mais diversa, justa e inclusiva?
Segundo Eduardo Haidar, CCO (Chief Culture Officer) da Swile comentou sobre o tema: “Faz parte de todo um sistema que sustenta o racismo estruturado e velado presente em nossa sociedade, e temos que lutar todos os dias e rever nossas atitudes para que isso não aconteça. É inadmissível aceitarmos essa desigualdade.”
O gestor ainda continuou: “Na Swile, buscamos manter um canal muito aberto com nossos colaboradores para tratar sobre qualquer tema e também buscamos muito pela diversidade em nosso ambiente de trabalho. Nós, como empresa que preza pela liberdade, respeito e flexibilidade, também queremos isso em nossos colaboradores, pessoas livres de preconceitos e de todos os gêneros e etnias. Quanto mais inclusão e pessoas diferentes, acredito que diversidade de ideias e soluções irão surgir, e isso é essencial para qualquer empresa”, concluiu Eduardo.
Segundo um artigo produzido pela First Round, abordando o tema de liderança inclusiva, há quatro pequenos hábitos que líderes e colaboradores podem ter no dia a dia para verem mudanças efetivas e diversidade.
- Peça autenticidade durante a jornada de trabalho.
- Crie um ambiente com autoconsciência e curiosidade.
- Procure e responda aos Feedbacks.
- Levante outras perspectivas com todo o time.
Todos os exemplos citados ajudam e devem fazer parte da criação de um ambiente corporativo mais justo, diverso e inclusivo.