Para desenvolver um mindset digital que tenha inovação, as empresas geralmente recorrem a um jovem recém-formado em grandes universidades e cheio de ideias para colocar em prática.
Porém, em geral, pouco tempo depois, a resistência da alta liderança às mudanças leva ao desligamento do colaborador. “É uma reação comum quando você mexe na zona de conforto de uma gestão convencional”, afirma Claudia Malschitzky, diretora do Great Place to Work Regional Paraná.
Lina Nakata, cientista do GPTW e doutora em Administração, analisa que terceirizar essa responsabilidade não é o ideal, e o líder não pode cobrar do outro se ele mesmo não muda sua atitude. Apesar da relutância, a mudança de mindset da liderança disparou no ranking de temas a serem trabalhados pelo RH em 2020, com 68% das respostas, de acordo com relatório de tendências de RH produzido pelo Great Place To Work.
Com a pandemia, o tema tomou uma status mais importante e fundamental a ser discutido. Há a necessidade de transformação do negócio em meio às mudanças provocadas pelo novo coronavírus, e é reforçada a importância da transformação especificamente da liderança. Como chegar lá? Claudia e Lina nos mostram o caminho.
O que significa ter um mindset digital?
Claudia menciona que ter um mindset digital é muito mais sobre e para pessoas do que sobre tecnologia. Analisar dados para melhorar a chamada experiência do colaborador no ambiente de trabalho, por exemplo, também é importante. Porém, não se trata apenas de uma modificação nas ferramentas digitais, mas de em uma cultura baseada na colaboração e na confiança nas pessoas que fazem o negócio.
Para isso, a liderança precisa estar disposta. A boa notícia é que, apesar de ser desafiador, mudar a mentalidade é, sim, possível, independentemente dos anos de experiência. O caminho, segundo especialistas, costuma ser o autoconhecimento. Ao estar consciente de suas limitações, do seu comportamento, dos seus pontos fortes e fracos, o líder pode entender como desenvolver seu mindset digital.
Quais são os obstáculos para a mudança?
O relatório de tendências de RH para 2020 divulgado pela GPTW, apontou que para 50% dos respondentes, a mentalidade da liderança é o principal empecilho para a inovação na empresa. Baseada na sua experiência junto às organizações que buscam a Jornada de Certificação, Claudia chegou a algumas características que impedem o líder de se adaptar à nova realidade. Entre as principais, estão:
– mindset estagnado;
– medo do cotidiano;
– falta de vínculo com o propósito;
– sobrecarga da média liderança.
A partir dessas barreiras, a diretora promove um workshop para que a liderança reconheça suas deficiências e desenvolva um novo mindset voltado às pessoas. Nesse movimento, é fundamental praticar o desapego e se livrar de crenças comuns entre líderes conservadores. Aqui, Claudia é categórica: “os tempos são outros e o que deu certo no passado não funciona mais”.
Como incentivar o mindset digital nas lideranças?
Para começar a transformar a mentalidade, peça para que os líderes reflitam se as pessoas estão no centro da estratégia de negócio. “É assustador perceber como muitas empresas não têm nem mesmo a palavra pessoas na sua missão”, relata Claudia. Tendo isso claro para todos, o trabalho do RH é facilitado e você pode implementar as dicas das especialistas do GPTW com mais segurança.
1. Estabeleça um propósito claro para toda a empresa
Mudar apenas para acompanhar uma tendência de mercado não é recomendável. Todos concordamos que as empresas são criadas para gerar lucro, mas as que sobrevivem são aquelas que estabelecem sua razão de existir — e, principalmente, usam esse propósito para motivar seus colaboradores, inclusive a participarem do processo de transformar a mentalidade da liderança.
2. Sensibilize as lideranças sobre a necessidade da mudança
A transição de mindset pode ser um processo delicado para o/a líder. Claudia cita o exemplo de cooperativas agropecuárias do Paraná, com milhares de funcionários e faturamento anual superior ao PIB nacional. Os proprietários dessas empresas têm origem no campo, um ambiente culturalmente tradicionalista. Se esse é o caso das lideranças da sua organização, antes de capacitá-las, é essencial sensibilizá-las de que os modelos antigos de gestão de pessoas estão se tornando obsoletos e, os resultados em um mindset ultrapassado poderão se tornar insustentáveis.
3. Estimule uma postura colaborativa e aberta ao diálogo
O líder do futuro não é mais aquela entidade soberana, inacessível e com a agenda cheia de reuniões. Gestores com mindset digital dialogam com seus liderados e adotam um comportamento genuinamente disponível e receptivo à colaboração das pessoas com o negócio. “Neste caso, não é necessária nenhuma ferramenta específica. Basta simplesmente ouvir, com atenção, o que seu colaborador tem a contribuir”, recomenda Lina.
4. Prepare as lideranças para se tornarem protagonistas
Considerando um contexto mais processual, Lina também indica a realização de programas de desenvolvimento formais e informais para capacitar os gestores a liderarem a transformação — o que, para ela, é um dos maiores desafios das empresas. “Cabe ao RH prepará-los para que eles sejam o principal exemplo da organização perante suas equipes”, comenta Lina. Um exemplo desse tipo de investimento em educação corporativa é RH Ágil, formação sobre mindset digital promovida pelo GPTW em parceria com a HSM.
5. Crie mecanismos para os colaboradores contribuírem
Os colaboradores, sobretudo os mais jovens, também podem ser excelentes incentivadores da nova mentalidade da liderança — quando existe abertura para isso, claro. À medida que eles têm autonomia, liberdade e espaço para colaborar com a gestão da empresa, o mindset digital é uma consequência. Desde simples ações de reconhecimento que valorizem as pessoas até plataformas digitais – já que muitos têm a interação hoje somente pelas vias online – que estimulem a troca de ideias entre as pessoas, tudo é válido para fomentar a inovação.
Assim como a gestão de pessoas não se restringe ao RH, a transformação do mindset digital também deve ser uma tarefa compartilhada por toda a empresa, mas sempre guiada pela liderança.